A claridade que vinha das luzes que se espalhavam pelas paredes e pelo teto da recepção daquele hotel era inebriante. O chão de mármore branco, exageradamente limpo e opaco, cegava-se com a imponência das lâmpadas amareladas, tão imponentes e autoritárias. Não havia ali um lugar sequer que se banhasse da escuridão ou se isolasse no recanto das pequenas sombras. Parecia que a placidez daquele espaço deveria ser mantida a qualquer custo e que qualquer movimento mais arrojado causaria descontentamento geral. Os hóspedes que ali permaneciam, tinham sorrisos amargados, gestos mal articulados, olhares mal intencionados e vozes roucas e sem efeito. O balcão arrendondado, com tons mais austeros e uma iluminação mais branda, resguardava funcionários com faces retraídas e expressões extremamente frias, destruindo o pouco acalanto que ali existia. E em meio a todo esse ambiente nauseante, na única poltrona vermelha daquele imenso salão, bem perto do abajour quadrado, distraído e reflexivo, eu me encontrava irriquieto, de pernas cruzadas e com um jornal na mão. Aquele pedaço de papel velho guardava notícias que eu nunca li, de um dia que eu não soube, de uma semana que eu nunca vivi.
sábado, 4 de maio de 2013
Nossas pernoites – Parte I
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