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Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

sábado, 4 de maio de 2013

Nossas pernoites – Parte I

      A claridade que vinha das luzes que se espalhavam pelas paredes e pelo teto da recepção daquele hotel era inebriante. O chão de mármore branco, exageradamente limpo e opaco, cegava-se com a imponência das lâmpadas amareladas, tão imponentes e autoritárias. Não havia ali um lugar sequer que se banhasse da escuridão ou se isolasse no recanto das pequenas sombras. Parecia que a placidez daquele espaço deveria ser mantida a qualquer custo e que qualquer movimento mais arrojado causaria descontentamento geral. Os hóspedes que ali permaneciam, tinham sorrisos amargados, gestos mal articulados, olhares mal intencionados e vozes roucas e sem efeito. O balcão arrendondado, com tons mais austeros e uma iluminação mais branda, resguardava funcionários com faces retraídas e expressões extremamente frias, destruindo o pouco acalanto que ali existia. E em meio a todo esse ambiente nauseante, na única poltrona vermelha daquele imenso salão, bem perto do abajour quadrado, distraído e reflexivo, eu me encontrava irriquieto, de pernas cruzadas e com um jornal na mão. Aquele pedaço de papel velho guardava notícias que eu nunca li, de um dia que eu não soube, de uma semana que eu nunca vivi.