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Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

sábado, 31 de dezembro de 2011

O Murilinho

                  (texto extraído do livro O Melhor das Comédias da Vida Privada)
                                                                                     Luis Fernando Veríssimo


      De tanto ouvir falar do Murilinho – que era um gênio, que era um chato, que era um crânio, que era um bobo –, a Ângela não se conteve. No dia em que foi apresentada a ele, exclamou:
      — Então você é o Murilinho?
      E ele, abrindo os braços:
      — Alguém tem que ser.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Efeito Molinete – Parte II

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      Era época de ano novo naquele ano velho, e nada de novo havia em sua rotina. Prosseguia uma trajetória sem significados maiores ou qualquer relevância extraordinária que seja, tudo se resumia na vã carnalidade. O dia de amanhã só teria sentido se fosse enrolado em lençóis amarrotados sobre a cama ainda quente de uma noite sem fim, inexplicavelmente abraçada pela luz que surgia aos poucos pela brecha da janela quase fechada.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Soneto do Amor Querido


Ah, meu grande amor, de tão grande um dia,
De repente fenecia em tua plena hostilidade.
Teu olhar amargurado abandonava a fantasia
E eu tolo vagueava ainda em nossa realidade.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Efeito Molinete – Parte I

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      Talvez fossem necessários dez homens para girar aquela chave ou era a sua fraqueza que lhe consumia, já que comera quase nada durante o dia inteiro. Fechou a porta e jogou a própria face naquela madeira cheirando a verniz novo e aos poucos foi soltando o ar do peito, como quem tenta tirar o peso que ali existia. Bateu então a testa naquela superfície rígida para não se esquecer daquilo que devia sentir, daquilo que lhe lembrava quem ele verdadeiramente era.

domingo, 27 de novembro de 2011

Velho Mundo - Parte 2

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      Durmo acalentado pelo sereno e vejo que já é tarde para relembrar o passado. Tomo o meu banho e, pensativo, assisto um filme passar na mente, um momento já casual. Agora é meu corpo todo que estranha essa rotina tresloucada, só que agora regrada em leis que ainda não me adaptei por inteiro. O Sol voltou a ser o mesmo… Ah, se voltou… Só que agora ele ferve a minha cabeça querendo desgastá-la, enfraquecê-la, desviar os pensamentos tristes, antes que a mãe Lua venha dar o esperado sossego, e assim provocar no vazio desejado a plenitude da lembrança.

domingo, 20 de novembro de 2011

Roda de samba

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Escuto um samba fora do compasso
E não me importo com a incoerência
Dos versos que soam sem clemência
Ao impor um vigor por inteiro escasso.

sábado, 5 de novembro de 2011

Ventilador

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Assim como a chuva em dia de vento
Ou a culpa na mente de um pecador,
Desapego e volto ao mesmo sentimento
Ao jogar as lembranças no ventilador.

domingo, 23 de outubro de 2011

O homem da face de vidro

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      O homem da face de vidro era o que era assim como todos são o que são. Tinha os seus defeitos, os seus acertos, seus ensejos e suas paixões. Gostava de música, matemática e alemão. Reclamava da monotonia, queria mudar de emprego, lidava com a saudade, vagueava em pensamentos tolos sobre os mistérios da vida. Deixando de lado as coisas que o tornavam único, como o jeito expansivo de se expressar, a forma incomparável de reconfortar, os passos largos na hora de andar, o homem da face de vidro era um homem como qualquer outro. Mas o mundo não o via assim.

sábado, 15 de outubro de 2011

Eclipse

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Caso a dúvida a encontre, não prossiga,
O meu amor não merece tanto desdém.
Mesmo que com palavras eu não te diga,
Do teu “eu te amo” nasce o meu também.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Céu nebuloso

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Lá se dorme com olhos entreabertos,
Lá se brinca em ruas quase fechadas,
Lá se percebe os tantos futuros incertos,
Lá se escondem almas abandonadas.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Era um vez

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      Era um vez alguém que não acreditava em contos de fadas. Achava mais que a vida era um filme de terror ou um quem sabe um peça de teatro com um elenco de segunda mão. Imaginava que não crer no impossível era a única forma possível de ser sensato. Afinal, os nossos desejos mais intrínsecos só se realizam de fato em realidades fantasiosas. E fantasia ao seu ver era uma ideia que somente serviria àqueles que errados dizem ao fim do dia amar alguém para sempre, ou que sempre estarão ao seu lado, ou que o dia de amanhã tende sempre a ser melhor. Os seus dias passavam e pareciam só piorar. A mágica acontecia quando um coração que supostamente não suportaria tanta solidão e amargura, permanecia batendo, como se houvesse motivos para isso.

domingo, 25 de setembro de 2011

Terminal


Meu temor vem da morte. Claro que temo
Partir sem ao menos ter alguma resposta,
Se os que a mim juraram tal amor extremo
Em vida, chorarão sobre a matéria decomposta.

domingo, 18 de setembro de 2011

Menina

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Menina faceira, menina bobeira,
Como queria tua vida para mim.
Ver que viver é uma brincadeira
E que a bondade há de haver sim.

sábado, 10 de setembro de 2011

Quisera eu

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Quisera eu ter sido infeliz.
Só assim não me prenderia
Aos sorrisos que tive um dia,
Às memórias escritas a giz.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Quando acontece

      O dia raiou e nada acontecia. Estava no mesmo lugar, passando pelos mesmos segundos, abrindo os olhos e enxergando a mesma paisagem, planejando meus atos, já sabendo que são sempre os mesmos. Nada aconteceu. Entretanto algo pesava o meu corpo, ou minha alma. Eu encontrava-me em imenso desequilíbrio, como se estivesse tendendo a um lado da minha existência, louco para se libertar. A angústia deste sentimento permaneceu em muitos de meus dias. Eu tornei-me um ser muito calado, incluso, decifrando a mensagem tão penetrante por trás disso tudo, sem saber o que fazer, o que dizer, a quem procurar. Sentia-me como se houvesse uma voz ao pé do ouvido, a cochichar a coisa mais importante do mundo, e que eu teria que me isolar de todo o resto para dar total atenção à ela, usufruindo assim de tamanha sabedoria. Só que, ainda que eu me esforçasse, de lá nunca saía nada. Enquanto isso, nada acontecia.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Paralelamente


Acontecia então em minha mente
Paralelo um mundo tão diferente
Daquele que realmente existia

Eu, confiante, não um demente
De frustado passei a contente
E não dei espaços à covardia.

Ignorei ao redor essa gente,
Estavas bem à minha frente
Nada e ninguém mais eu queria.

Eis o momento de ser imprudente,
Puxando teu braço e inconsequente
Ver dos teus lábios surgir a magia.

Mas desta realidade fico ausente,
Da minha fraqueza já estou ciente,
Vivo este mundo somente em poesia.

Caio Sereno.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Joana

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Esta tua beleza, tua forma encantada,
Só cresce com o passar das semanas
Sem razões maiores, por tudo e nada,
Em tão pouco tempo já amo Joana.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Seu-vagem

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Já em pensamento sofro deste capricho,
Desejo possuir-te perto do meu rosto,
Sentindo o cheiro, provando teu gosto
Com a voracidade que avança um bicho.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Estampado

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As palavras absorvem o meu grito abafado,
Condensado em rimas perfeitas que assim
Escondem a verdade deste ser que acabado
Em extenso desencanto só prolonga o seu fim.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Filme antigo

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No meu enxergar algo esplêndido ocorre
Ao ver-te luzente em meio a tão branco
E preto cenário que extrai de mim franco
Dizer que tu vives e o resto então morre.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cheia de juventude

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Teus braços envoltos em mim num retrato
Gravavam em papel tua maneira expansiva,
E ainda que eu olhasse e olhasse, de fato
Recordar-me contigo era uma falha tentativa.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pensando alto


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      São nos momentos vazios que surgem as reflexões mais profundas e aos olhos de uns desnecessárias ou até insanas. Porém enquanto eu estiver vivo não pararei só um segundo, não deixarei minha mente ser palco de devaneios aleatórios ou pensamentos não fundamentados. A partir de algo desconhecido ou distante ao limite de minha razão, eu abro um leque de opções possíveis para explicar as coisas aparentemente mais simples e que demonstram ser imensamente complexas, com suas respostas normalmente pessoais e inexplicáveis. E isso cansa. Em questão de segundos o calor do raciocínio que preenchia as minhas veias extingue-se, e volto à vida metódica e unidirecional.
      Deve-se parar de vez em quando. Em mim mesmo, sozinho, descubro um mundo que aparenta ser o mesmo no qual vivo, só que mais desafiador. E prazeroso.

Caio Sereno.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A arte de amar-te

      Para mim o teu corpo canta. Canta e extremamente afinado uma canção de amor. Não um amor de estar amando, simplesmente o amar por si só. Verbo este não pode se concretizar em uma ação. Sabe-se que ele existe e contenta-se com isso. Mas não consigo aquietar-me com a amplitude das notas que atinges. Percebo em cada gesto teu um verso delicado, prolongado, sofrido, e ao mesmo tempo fervoroso, gostoso, que aos meus ouvidos soa como um suspirar apaixonado, ofegante. Pareces clamar pela minha presença, como se eu fosse o único capaz de trazer harmonia às notas bagunçadas, já cansadas de procurar uma ordem que as trouxesse a clareza e tranquilidade tão esperada. Posso estar a distorcer a realidade, ou a criar a realidade que ao meu ver seria o ideal, não sei. Passo o dia pensando nos fatos. Ou pelo menos tentando, já que tua música não sai de minha cabeça, não deixa espaços para a reflexão. Talvez se eu pensasse menos em você e mais sobre nós.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ressurreição

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Às vezes sem motivo me vejo recluso,
Isolo a vontade de viver que ali persiste,
Fico a refletir o meu passado e confuso,
Sem respostas cada vez fico mais triste.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eu não nasci


      Eu não nasci para viver. As minhas vontades não são suprimidas com os meus desejos e realizações. Mas não pense que minha vida se resume a nada, não. Eu tenho de ser alguém, para assim fazer do outro uma pessoa melhor que eu, e assim mudar o mundo, já que eu por mim mesmo, levadas as devidas proporções, sou um nada. Poucos sentirão a minha falta, e aqueles que sentirem não mais ter-me-ão em seu leito a dizer o que talvez seja certo, o que talvez seja errado, ainda que eu os diga que no final tudo ocorrerá bem.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Código Negro

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No meio da multidão alvoroçada cá estou
A tentar entender o que eu estou sentindo,
Pois após tua partida tua foto é o que restou
E a saudade que ficou não se foi diminuindo.

sábado, 28 de maio de 2011

A chuva

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      A chuva traz a quietude de uma vida insossa. O lençol que cobre os seres das ruas vazias não cumpre a sua missão primordial. O seu tom pálido, que bruscamente se torna sombrio, leva aos sorrisos que ainda conseguem sobreviver um ar de preocupação, de aflição, de medo. Medo do que possa estar a solto pelas ruas, a ponto de ser necessária esta lavagem forçada, como quem esbofeteia o outro visando obter um momento calado, de razão e compreensão.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Eu sem mim

Queria eu não ter te amado este tanto
Talvez, só assim, dir-te-ias que enfim
Percebi que já não mais tinhas encanto
E que o nosso namoro chegava ao seu fim.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mundos

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      Não há como negar a atração inevitável que o "Colégio Pedro II" tem com a palavra "Mundo". E talvez o destino tenha se encarregado de pôr na história do trajeto das escolas brasileiras um Imperador Mirim que daria o seu nome à uma das mais renomadas instituições do país na atualidade, possibilitando hoje essa associação fonética e ortográfica a qual eu faço. Digo isso pois, este Colégio, de letras maiúsculas e reforçadas em tom de azul fosco, fez parte do meu mundo. Quiçá foi o meu Mundo por inteiro. Pois era lá que eu me via a sorrir, a conversar, a aprender, a sofrer, a cair, a comemorar... a viver os meus dias. Eis que eu afirmo sem titubear que hoje procuro o meu verdadeiro lugar neste planeta, ainda que durma todos os dias sobre um lençol quente de minha cama, que procuro a minha voz ser ouvida, ainda que eu possa falar a multidões de todo o mundo o que eu penso, que procuro ter meus amigos de volta, ainda que os encontre todos os dias ao meu lado. Essa contradição, que até parece ser a perfeição, desmorona na ideia de que eu não posso mover um mundo de lugar. Mesmo que eu tente imitá-lo, copiá-lo, trazê-lo para outro lugar, falharei em todas as tentativas. Sua alma reside num lugar que é único, e de lá nunca sairá. Mas certamente, seguirei com os meus dias sorrindo, conversando, aprendendo, sofrendo, caindo, comemorando... vivendo. Até porque essa nossa despedida não foi o fim do mundo... ou quem sabe foi... de pelo menos um deles.

Caio Sereno.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Tempo e Tempo


Não acredite que uma manhã de céu nublado
Ou uma noite sem estrelas a desobscurecer
Fizessem do meu posto um lugar abandonado
Estive, estou e sempre irei te proteger.
Por isso se uma dia habitar o desarranjo
Em sua vida, saiba, meu bem, sou teu anjo.

Caio Sereno.

sábado, 30 de abril de 2011

O piano verde


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      O piano verde agora repousa quieto no canto da sala. Abandonou-se a casa. Agora todo esse contexto fará parte da paisagem de um cartão-postal qualquer. Não mais importam as janelas fechadas, a pintura desgastada, a terra não arada, o piano verde.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Soneto de Aproximação

Uma paródia do poema de Vinícius de Moraes, “Soneto de Separação”.

De repente do presente fez-se o passado
Quieto e misterioso como já de costume
E das lembranças um algo não terminado
E dos teus lábios a fonte do meu ardume.

domingo, 24 de abril de 2011

O Catador

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O canto da minha boca guarda o teu jogo felino,
Que arranha em minh’alma esta dúvida constante.
Se a pureza de teus gestos tem um fundo genuíno,
Ou se mesmo tu estás a ver-me então o teu amante.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Minha terra tem

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Solta ligeiro esse corpo, meu nego!
Deixa-te levar pelo som da bonança,
Esta tempestade de passos da dança,
Este amanhecer que só nega o sossego.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Faz-me viver

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Mata-me com tua impunidade, teu aspecto egoísta,
Teu roubar nas noites cálidas, gélidos âmagos
Bem tu causas meio aos prantos, fúnebre artista
Pinta em tom melodista pesares e dores relâmpagos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Pontos de Interrogação

Por quê?

Por que eu exijo tanto de mim a todo tempo? Se fico a pensar sobre um futuro aparentemente definido, ele se esconde nas sombras pois a minha incerteza o joga ali. Pois que ele fica recluso, mas atento, com medo de que na escuridão possam tocar-lhe, olhar-lhe, sentir-lhe. Talvez seja este o motivo das minhas constantes noites de insônia, que apesar de contarem com a rapidez de um trovão dos meus pensamentos, acabam por resultar no silêncio do nada… nada mais que a velha dúvida de sempre.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Flor de marfim

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Este falso discurso que regem os machos
Exaltando aos montes infindável destreza
É pura bobagem. Somos pobres capachos,
Escravos do mais belo perpetuar da beleza.

quinta-feira, 3 de março de 2011

"Mulheres bem-comportadas não fazem história"

 (Texto elaborado para o concurso Construindo a Igualdade de Gênero, do Programa Mulher e Ciência).
  
       É normal ouvir a todo dia e a todo tempo nas escolas, nas ruas, nas casas e porque não nas mesas de bar, sobre o histórico das requisições femininas, nos diversos âmbitos da sociedade, levando em conta todos os seus processos de transição. Porém, não se sabe ao certo o porquê de tamanha discriminação com este segmento que tanto contribuiu para a humanidade nos seus grandes feitos. E se ao menos se sabe alguma coisa, percebe-se a não profundidade no tratamento destes fatos, resultando em julgamentos ausentes de conhecimentos, regados de preconceitos. Ou seja, temo-los, sabemo-los e “inconscientemente” esquecemo-los. Cria-se na mente dos seres que adentram a este mundo um pensamento antigo, que se enraíza. E visto a evolução do ser humano, na posse de seus direitos, não importando seu gênero, cor, raça e condição social, esta forma de pensar torna-se cada vez mais nobre de ser abolida. Entretanto, há de se levar em conta principalmente, de antemão, a vontade feminina e sua mobilização em larga escala, pois do céu só verão cair água. E olha que a água está começando a ficar escassa. E o preconceito, pelo contrário...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Canto um Pranto

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Das poucas árvores em que se ouvia o canto
Pomposas aves cantarolavam assim um grito
Pois já não vinhas alimentá-las com encanto
De teu passar, já rotineiro e tão previsto.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Amor Pronominal

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       Ah, se tu soubesses do meu português e do meu amor que por ti é pronominal…
       Saberias que te daria tudo, até mesmo a próclise, para te fazer feliz.
      Se por acaso não fores do tipo que é atraída por ela, acalma-te, meu bem. Viajaria universos em busca da tua ênclise.
      E que a mesóclise não fique entre nós. Não gosto de imaginar uma possível despedida. Entregar-te-ia o meu corpo, pois sem ti a minha alma, destruída, já não teria razão de habitar esta matéria já fragmentada em cacos.
     Mas, se de repente o tempo fechar, ficar meio composto e ficares perdida em meio a esta chuva de verbos, saibas que não importa o lugar que escolheres como teu abrigo, teu recanto final, tendo-me dito que estás bem, eu estarei de acordo. Pois eu sei que se quiseres viver a felicidade na plenitude e o amor na veracidade, é ao meu lado que te colocarás.

Caio Sereno.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Terra à vista

       Eu queria realmente saber o nome dela. Pelo menos o nome! Para que eu pudesse realmente chamá-la quando eu estivesse na cama já dormindo, sonhando que estamos numa praia afrodisíaca, curtindo a claridão do Sol, a brisa do mar, os drinks com pequenos guarda-chuvas na ponta e as cadeiras reclináveis. Se ao menos eu soubesse seu nome! Gaguejar quando sonho com ela já chega a ser algo inconveniente. Mas o pior mesmo é acordar. E pensar que te tive por alguns instantes, atemporais por assim dizer, mas que foram maravilhosos. Ai ai… Quem me dera ter a coragem de olhar em teus olhos fixamente, dirigir-te a palavra sem tremular as pernas, sem suar as mãos, sem atropelar as palavras. Seria uma tarefa impossível dizer um simples oi. Sempre foi.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Maldito Astro

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Não entendo se há um porquê no acaso
Deste doce encontro fadado à espera,
De um futuro que pode levar a um caso
E quiçá, por atraso, um algo à vera.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Encarnaval

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Ai, que saudade eu sinto dessa batucada,
Dos rostos alegres e ruas lotadas,
Das marchas e sambas e o povo a cantar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

E Progresso

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Eu ouço o sussurro calado das ruas,
Teus gritos de dor e ruídos de fome,
O som do sonhar dessas almas já nuas
Perdidas no mundo sem um sobrenome.

Quem?

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Quem dirá que a todo sempre não quis o teu bem, que houve sempre um porém quando eu dizia te amar?
Quem louco será de declarar-me como teu inimigo, que eu nunca quis ser teu real amigo, que eu só quis o teu penar?
Quem fará então teus dias melhores sem mim, que escutará o teu chorar assim quando vieres a sonhar?
Quem poderá dedicar-se como eu só fiz, que quererá a ti como eu só quis, que tudo faria pelo seu olhar?
Quem dará a vida inteira por um beijo teu, que cultivará um amor que feneceu, quando ele estiver a gritar que esse algúem sou eu ?

Caio Sereno.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vida lá fora


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       As pessoas que transitam por minha rua e passam por meu portão avistam meu semblante pensativo, meio acabado, desgastado, a admirar os passantes deste majestoso bairro. E me perguntam que faço eu ali a respirar ares tão puros e adocidados, os mesmos que exalam as crianças que estão a sorrir e farrear num canteiro sujo, perto da banca de jornal do Seu Jerônimo, marido da Dona Joana, parteira da vizinhança. Apesar de tudo, do outro lado percebo na esquina um grupo de jovens reunidos, a beber e festejar a dádiva da vida, o prazer de uma vida bohêmia e regada pelas vitórias do maior time do mundo. Logo em frente escuto os gritos de Carmélia. A pobre mulher polonesa enloquecia todos os dias com as peripécias de Herivelto, seu marido, que insistia numa relação a três, e estava sempre a trazer um felino do sexo feminino para as entranhas de sua casa com o intuito de adentrar no campo sagrado que era o quarto do casal. E de súbito surgem em meus calcanhares Carlos e Rosa, amados rebentos. Fruto vivo e encarnado dos tempos que passei junto com a mulher mais linda de todas. Aquela que me fez eternos uns mínimos segundos, que cravou em meu peito a saudade de uma vida toda. Foi o “para sempre felizes” na “forma de paraíso”. E o paraíso na forma de três anos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Prazer e Prazer

   
    – Arghh..... Oi?
    – .......Olá ?
    – É....   
    – Carlos né?
    – Não, é Fábio. E você é...
    – Suzana, prazer.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fogaréu

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Meu bem, como és cego, não vês a verdade
Dos tristes afagos que faço em teu rosto,
Um fruto da tua rigidez sobre a vontade
Fazendo o meu mundo girar no oposto.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Amor Bandido

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À noite, a luz celeste acomoda-me em doce pranto,
Este servo da existência que perdeu um fragmento
Só jurando a eternidade do amor mas que entretanto
Resultou na vastidão da tua perda e seus lamentos.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Velho Mundo

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       Acordo pela manhã, e vejo que já é tarde. Tomo o meu café-da-manhã tranquilamente e assisto ao programa de esportes casual desse horário. Mas meu estômago estranha toda essa rotina estapafúrdia, cheia de deslizes e uniformidades, já que se encontra acostumado a horários e vontades regrados. E o Sol já não é mais o mesmo... Ah, não pode ser... Ele fervia toda vez que me avistava. E maltratava-me desde o início daquele dia até o seu sórdido e cansativo final, já aconchegado pela mãe Lua que dava o esperado sossego. Agora? Largou-me de lado para viver a sua vida boêmia irregular, porém que é somente sua.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Glória, Glorinha


       De Glória só guardo o que quero esquecer. Tudo aquilo que de certo eu fiz um dia e que só trouxe consequências erradas. Quem disse que no final tudo dá certo certamente não conhecia Glorinha. Mas, chega! Sem apegos... Afinal, só de falar seu nome minha mente na sua plena capacidade desvia seu foco e volta-se novamente às lembranças desta mulher que acabou com tudo isso. Aliás, nem isso mais eu tenho. Se penso em mim não consigo pensar em mais nada. E nada, e nada. Eis quem eu sou.