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Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Canto um Pranto

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Das poucas árvores em que se ouvia o canto
Pomposas aves cantarolavam assim um grito
Pois já não vinhas alimentá-las com encanto
De teu passar, já rotineiro e tão previsto.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Amor Pronominal

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       Ah, se tu soubesses do meu português e do meu amor que por ti é pronominal…
       Saberias que te daria tudo, até mesmo a próclise, para te fazer feliz.
      Se por acaso não fores do tipo que é atraída por ela, acalma-te, meu bem. Viajaria universos em busca da tua ênclise.
      E que a mesóclise não fique entre nós. Não gosto de imaginar uma possível despedida. Entregar-te-ia o meu corpo, pois sem ti a minha alma, destruída, já não teria razão de habitar esta matéria já fragmentada em cacos.
     Mas, se de repente o tempo fechar, ficar meio composto e ficares perdida em meio a esta chuva de verbos, saibas que não importa o lugar que escolheres como teu abrigo, teu recanto final, tendo-me dito que estás bem, eu estarei de acordo. Pois eu sei que se quiseres viver a felicidade na plenitude e o amor na veracidade, é ao meu lado que te colocarás.

Caio Sereno.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Terra à vista

       Eu queria realmente saber o nome dela. Pelo menos o nome! Para que eu pudesse realmente chamá-la quando eu estivesse na cama já dormindo, sonhando que estamos numa praia afrodisíaca, curtindo a claridão do Sol, a brisa do mar, os drinks com pequenos guarda-chuvas na ponta e as cadeiras reclináveis. Se ao menos eu soubesse seu nome! Gaguejar quando sonho com ela já chega a ser algo inconveniente. Mas o pior mesmo é acordar. E pensar que te tive por alguns instantes, atemporais por assim dizer, mas que foram maravilhosos. Ai ai… Quem me dera ter a coragem de olhar em teus olhos fixamente, dirigir-te a palavra sem tremular as pernas, sem suar as mãos, sem atropelar as palavras. Seria uma tarefa impossível dizer um simples oi. Sempre foi.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Maldito Astro

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Não entendo se há um porquê no acaso
Deste doce encontro fadado à espera,
De um futuro que pode levar a um caso
E quiçá, por atraso, um algo à vera.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Encarnaval

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Ai, que saudade eu sinto dessa batucada,
Dos rostos alegres e ruas lotadas,
Das marchas e sambas e o povo a cantar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

E Progresso

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Eu ouço o sussurro calado das ruas,
Teus gritos de dor e ruídos de fome,
O som do sonhar dessas almas já nuas
Perdidas no mundo sem um sobrenome.

Quem?

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Quem dirá que a todo sempre não quis o teu bem, que houve sempre um porém quando eu dizia te amar?
Quem louco será de declarar-me como teu inimigo, que eu nunca quis ser teu real amigo, que eu só quis o teu penar?
Quem fará então teus dias melhores sem mim, que escutará o teu chorar assim quando vieres a sonhar?
Quem poderá dedicar-se como eu só fiz, que quererá a ti como eu só quis, que tudo faria pelo seu olhar?
Quem dará a vida inteira por um beijo teu, que cultivará um amor que feneceu, quando ele estiver a gritar que esse algúem sou eu ?

Caio Sereno.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Vida lá fora


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       As pessoas que transitam por minha rua e passam por meu portão avistam meu semblante pensativo, meio acabado, desgastado, a admirar os passantes deste majestoso bairro. E me perguntam que faço eu ali a respirar ares tão puros e adocidados, os mesmos que exalam as crianças que estão a sorrir e farrear num canteiro sujo, perto da banca de jornal do Seu Jerônimo, marido da Dona Joana, parteira da vizinhança. Apesar de tudo, do outro lado percebo na esquina um grupo de jovens reunidos, a beber e festejar a dádiva da vida, o prazer de uma vida bohêmia e regada pelas vitórias do maior time do mundo. Logo em frente escuto os gritos de Carmélia. A pobre mulher polonesa enloquecia todos os dias com as peripécias de Herivelto, seu marido, que insistia numa relação a três, e estava sempre a trazer um felino do sexo feminino para as entranhas de sua casa com o intuito de adentrar no campo sagrado que era o quarto do casal. E de súbito surgem em meus calcanhares Carlos e Rosa, amados rebentos. Fruto vivo e encarnado dos tempos que passei junto com a mulher mais linda de todas. Aquela que me fez eternos uns mínimos segundos, que cravou em meu peito a saudade de uma vida toda. Foi o “para sempre felizes” na “forma de paraíso”. E o paraíso na forma de três anos.