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Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

domingo, 18 de dezembro de 2016

A garota do mês de outubro

Ela me veio com um sorriso borrado,
Típico de quem manchou o copo de batom.
Toda a sua natureza era embriagada,
E fazendo-se de tonta e descuidada,
Ela embebedava toda a minha razão.
A sua pele suada, salgada de fim de dia,
Tinha uma entrega que se enfraquecia
E um cheiro que entorpecia.
Por mais que ela se misturasse,
Dela sempre o mundo se lembraria.
A garota do mês de outubro era dividida.
A incerteza da sua chegada fria
Se confundia no meu interior a queimar.
E nessa intrínseca dualidade,
Ela amargava todas as minhas expectativas,
Justificando sua sede expressiva
Numa sobriedade de se admirar.
Não é sua culpa essa mente desfigurada,
Logo ela, que já nasceu engarrafada,
Enclausurada numa eterna escuridão.
Hoje, ela se diz indisposta
E afirma não ter nenhuma resposta
Que explique a sua involução.
Eu, já alcoolizado, imerso no teu vício,
Sou sujeito ao seco sacrifício
De esquecer o teu paladar.
E no copo, beirando quase o seu fundo,
Permanece o desejo mais profundo
De um dia de ti eu me embebedar.


Caio Sereno.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Uma doença

Em mim habita uma doença
Çádica e consumidora.
Rastejando pelo meu esôfago,
Goza plena a sua existência.
Ci a perguntarem o que é,
Éla falará de malgrado,
Domando todos os seus sintomas.
Máscaras tomarão teu rosto,
Tolindo o negro das minhas olheiras.
Rasgo teus diagnósticos, doença,
Çabes bem que não te gosto enfim.
Fimdando a noite, sei que tu retornas
Nas manhãs, deitando-se sobre mim.
Mimnha culpa é abraçar-te junto ao peito
Tomando-te sempre como órgão vital.
Talvez eu goste dos teus carinhos
Nhos beijos gélidos de solidão.
Dão eles o conforto do sono sadio
Di outra noite que tarda em acabar.
Barsta que dês um estalo,
Logo tu me terás em sua posse.
Sse engana, porém, quem me ver feliz.
Lizpero diariamente deixar meu corpo,
Podendo, enfim, mostrar que eras tu
Tudo aquilo que me fez ser assim.

Caio Sereno.

domingo, 15 de maio de 2016

Sozinha

Por que me deixaste tão sozinha
À tua promessa, fissurada 
Tornaste enevoadas
Minhas manhãs sorrindo
Te descobrir partindo
Virou meu passatempo
Querer-te a contratempo
E perceber

Que a voz lá dos teus sambas me acarinha
Surge e me trespassa inteira
Mas guardo minhas bobeiras
Seguindo teu protocolo
E castigar-me a açoite e de branquinha
Ficarei sem reparo
Ignorar o coro
De quem implora o fim

Sonhar nosso casebre, e na cozinha
Facas, uma tábua e o azulejo
Temperar teu desejo
E ser tua receita
Me aquecer à beça e com farinha
Untar teu corpo inteiro
E exibir teus cheiros
Só em mim

Tornar os meus enfeites teu deleite
Na beleza que esmiuçaste
Do peito que já choraste, relembrar
Ao teu coração perdido
Poder ser recolhido
Pelo meu pra sempre
E que o futuro centre as entrelinhas
No amor que tu continhas
E nunca ter sabido.

Caio Sereno.

Paródia da música "Uma Canção Desnaturada", de Chico Buarque.