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Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Como uma tempestade

Nuvem negra, asfalto molhado, cisco no olho.
Nem as folhas dançando com o vento
Ou o céu amedrontado por cada trovão,
Nada compunha o teu prenúncio
Naquela tarde de domingo azul.
Sorrateira, percebi a luz encobrir-se de ti
Pouco a pouco
E jurei ser apenas o início de mais uma noite,
O espetáculo diário da nossa rotação,
E me arrepiei da cabeça aos pés de excitação.
Quando eu te vi pela primeira vez,
Não soube, de imediato, decifrar o teu jeito
Enevoado e melancólico,
Como quem leva consigo um rio
E chora para não transbordar.
Eu só me aproveitava do teu aconchego regado
E tomava banho de chuva
Sem medo de me resfriar.
Nos teus ventos, virava meu guarda-chuva do avesso
Percebendo que eu havia me virado também
E sutil e simplesmente
Descobrir ser esse o meu melhor lado.
Apreciava as luzes da cidade se apagando
Como se o teu canto rouco
Melódico e estrondoso
Fosse um canto só para mim.
Como uma tempestade,
De repente,
Não mais que de repente,
Você desapareceu.
Debruço-me na janela adorando o orvalho,
Que é um lembrete de que você passou por lá
Tão brevemente, mas que se fez presente
Com teu cheiro molhado a se dispersar.
Ando acordando meio tristonho
Ao perceber a claridade lá fora se perpetuando
Sem saber se essa dor que eu carrego no peito,
Que esquenta e não resseca,
Que só aumenta e nunca cessa,
É saudade ou pneumonia.

Caio Sereno.