
Aquela voz aguda e pontual ecoava por todos os cantos do aeroporto. Crianças correndo por entre as filas de embarque, mulheres gritando júrias de abandono aos maridos e homens exaltados com a plena incapacidade das atendentes, nada parecia interferir na calma e placidez da criatura onipresente daquele aeroporto. Nem mesmo os avisos de voos sendo adiados e cancelados, a tempestade que se aproximava e os loucos que circularam pelas longas pistas demarcadas com tinta branca, nada alterava o tom de normalidade que perpetuava na sua oratória. A mulher que discursava nos alto-falantes devia estar com os olhos vendados e ouvidos tapados, pois a balbúrdia que se instalava era indiferente ao tom das suas palavras. Porém não a mim.