Afeto Pagão

Se o teu feliz viver me enternece,
Tua indiferença a mim muito aflige,
Pois teu sorriso é o que me apetece
A seguir a trilha na qual tua vida se dirige.

Mas seria tão fácil entender os extremos
E eu penso que fazes de um jeito assim:
Que um dia me amas, que algo teremos
No outro és neutra e até grossa no fim.

É quase inevitável enxergar que em você
Eu encontro meu mais glorioso almejo.
Ou talvez nem eu mesmo entenda o porquê.
Ou talvez nem eu saiba meu maior desejo.

Mas com toda certeza sei que algo me atrai.
Não pode ser nada e creio não há de ser
Pois em todo adeus o meu sossego esvai
Eis então que eu começo a querer te rever.

E se é nessa gangorra que vivo os meus dias,
Não estranhes se um dia eu estiver abrasado.
E também não censures essas minhas agonias
Sendo todo apatia, estando longe e calado.

Ao fim do dia, aliado ao meu sonhar baboso,
Permaneço buscando do escuro uma cor.
Nasce em mim repentino desfecho gostoso,
Deslumbrante e caloroso. Quem sabe isso seja amor.

Caio Sereno.