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O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

sábado, 28 de maio de 2011

A chuva

Casal-na-Chuva

      
      A chuva traz a quietude de uma vida insossa. O lençol que cobre os seres das ruas vazias não cumpre a sua missão primordial. O seu tom pálido, que bruscamente se torna sombrio, leva aos sorrisos que ainda conseguem sobreviver um ar de preocupação, de aflição, de medo. Medo do que possa estar a solto pelas ruas, a ponto de ser necessária esta lavagem forçada, como quem esbofeteia o outro visando obter um momento calado, de razão e compreensão.
       Eu não sou dos mais corajosos. E pensando bem, bravura nesse momento não importa tanto assim. Ela, caso dê a honra de sua presença, será da forma mais natural e mágica possível. Mas ainda não tenho certeza sobre nada. E é impossível dar palavras a um sentimento que se mostra tão magnífico e inexplicável. Não há maneiras pré-concebidas que poderiam me ajudar nesse momento de torturante indecisão. Sim,  eu posso estar amando. Digo isso pois as ruas não mais são silenciosas. Elas convivem agora com o som da pulsação desritimada que brada o meu coração. Aflição essa provém da ansiedade de poder te encontrar ao virar na próxima esquina. Pura e simples atração não faria com que eu estivesse agora, encharcado, em plena manhã de sábado, a esquecer a chuva torrencial que cai, só por estar pensando em tudo que nos aconteceu, que pode acontecer e quiçá acontecerá.
      As calçadas, em razão deste clima, podem até estar abandonadas e carentes. Entretanto eu as vejo iluminadas pela luz solar, abarrotadas de pessoas de todos os tipos, de todas as idades, de todos os jeitos. Uma coisa lhes é comum. Todas elas sorriem para si mesmas, sorriem para o outro, sorriem para a vida, sorriem para mim. Apesar da chuva querer que eu a acompanhe neste momento melancólico em que ela se afunda, que eu lhe dê o prazer de mostrar tristeza por minhas lágrimas, juntando-as assim à água que cai impiedosamente, eu não me rendo. De certa, mesmo sem querer, eu a ignoro. Tola. Não vês a grandeza do que está acontecendo dentro de mim? Não percebes que seus esforços serão falhos? Não percebes que um dia ensolarado há de chegar novamente?… Espere…
      Quem sabe eu esteja entendendo de uma forma equivocada. Quem sabe não queiras sacar de mim a tristeza, e sim florescer a beleza que reside na alegria de saber que amo a alguém. Talvez a gravidade tenha sido criada para trazer o lume distante das nuvens vagantes ao meu alcance. Talvez essas gotas de água tenham deixado seu lar somente para vir ao meu encontro. Talvez elas tenham vindo para me mostrar isso tudo, e ainda que a sua chegada deixe o céu obscuro, elas não se importam, pois sabem que para olhos que brilham um céu nublado é mera questão de interpretação.

Caio Sereno.

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