Páginas

Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Quando acontece

      O dia raiou e nada acontecia. Estava no mesmo lugar, passando pelos mesmos segundos, abrindo os olhos e enxergando a mesma paisagem, planejando meus atos, já sabendo que são sempre os mesmos. Nada aconteceu. Entretanto algo pesava o meu corpo, ou minha alma. Eu encontrava-me em imenso desequilíbrio, como se estivesse tendendo a um lado da minha existência, louco para se libertar. A angústia deste sentimento permaneceu em muitos de meus dias. Eu tornei-me um ser muito calado, incluso, decifrando a mensagem tão penetrante por trás disso tudo, sem saber o que fazer, o que dizer, a quem procurar. Sentia-me como se houvesse uma voz ao pé do ouvido, a cochichar a coisa mais importante do mundo, e que eu teria que me isolar de todo o resto para dar total atenção à ela, usufruindo assim de tamanha sabedoria. Só que, ainda que eu me esforçasse, de lá nunca saía nada. Enquanto isso, nada acontecia.
      Desesperado, meti-me a perambular pelas ruas, sem muitos pensamentos em mente, mas com o único objetivo de expulsar, seja lá o que estava dentro de mim, para bem longe, ao céu, ao infinito. Eu tinha certeza que alcançaria esta altitude, tamanho era o sufoco que era causado dentro de mim. E que fazias no lugar onde eu estava? Por que apareceste neste ambiente tão sombrio no qual me encontro imerso? Teus olhos e seu brilho irradiante ressaltavam diante a paisagem. Mas como vieste parar logo ali? O mundo e sua magnitude, e nós ali, juntos, no mesmo lugar. Estendeste a mão, eu a segurei. A cada gesto teu, junto ao meu, um pedaço de mim esvaía-se. Não penses que sinto falta daquilo que se foi. Agora ele tem lugar certo, e de lá eu sei que nunca vai sair, pois naquele momento no qual meu corpo estremeceu, os meus olhos mirando os teus, a alma que tanto ardia, meus lábios balbuciaram, desataram e converteram em palavras o que tanto me inquietou. De lá, subitamente, saiu um ”Eu te amo”.
      Então tudo aconteceu.

Caio Sereno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário