Querido diário
Folheio as tuas páginas secas
E afasto a poeira com a ponta dos dedos
Por medo de te quebrar
Sigo o movimento das tuas folhas
Como ondas que crescem no cabeçalho
E morrem aos poucos no rodapé
Assim afogo o meu desabafo
Em meio a letras borradas e disformes
Que lutam pra se empalavrar
Querido diário
Vê se perdoa esse meu choro
Que precipita no teu dorso tão generoso
Disposto a acolher a minha essência
E jurar um sigilo
Que só as tuas páginas podem aguentar
Amontoadas umas nas outras
Quase que cínicas no canto da estante
Estando sempre, à minha vontade,
De braços abertos a me esperar
Querido diário
Tenho te preenchido de páginas vazias
Retratos de dias que prefiro apagar
Todo o desconsolo que me preenche
E foge pelo lápis mal apontado
Não encontra espaço na tua mansidão
Então deixe que a poeira pouse
E se acumule em cada canto do teu interior
Quem sabe um dia eu volte e te confesse
Todos os segredos de uma vida feliz.
Caio Sereno.
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