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O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

domingo, 23 de outubro de 2011

O homem da face de vidro

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      O homem da face de vidro era o que era assim como todos são o que são. Tinha os seus defeitos, os seus acertos, seus ensejos e suas paixões. Gostava de música, matemática e alemão. Reclamava da monotonia, queria mudar de emprego, lidava com a saudade, vagueava em pensamentos tolos sobre os mistérios da vida. Deixando de lado as coisas que o tornavam único, como o jeito expansivo de se expressar, a forma incomparável de reconfortar, os passos largos na hora de andar, o homem da face de vidro era um homem como qualquer outro. Mas o mundo não o via assim.
      O homem da face de vidro às vezes duvidava de sua existência. Apesar de compreender certos impasses que afligiam a mente dos aborrecidos, de saber a solução para as desgraças das vidas sofridas, o homem da face de vidro, sem perceber, guardava tudo para si. Ninguém tinha conhecimento deste fato, mas havia um homem por trás do homem da face de vidro. E quão fantástico ele era. Caso um dia tenha havido alguém que realmente se aproximou da bondade, este foi o homem da face de vidro. E por ter tão bom coração, é claro que amou. Amou a todo tempo, amou por passatempo. Amou. Mas não teve amor por particípio. O homem da face de vidro amou e ficou só.
      Como pode alguém como ele falhar no sentimento mais nobre que se pode ter? Como pode alguém como ele ter sua única fraqueza naquilo que devia ser a sua maior força? O homem da face de vidro viu o tempo passar e, sufocado, assim permaneceu. Seu semblante vazio escondia a agonia que arranhava o seu coração extasiado devido aos constantes casos de decepção e dor. Se ao menos ele tivesse mostrado em pequenos gestos o que tremidava a sua alma, já bastaria. Quem ama se entrega, e se nega, torna aquilo mais óbvio do que já estava. O homem da face de vidro poderia ter sido somente um homem, mas ficou calado. Foi mais vidro do que homem. E por isso foi mais amante do que amado.

Caio Sereno.

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