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O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Velho Mundo

D_PedroII
       Acordo pela manhã, e vejo que já é tarde. Tomo o meu café-da-manhã tranquilamente e assisto ao programa de esportes casual desse horário. Mas meu estômago estranha toda essa rotina estapafúrdia, cheia de deslizes e uniformidades, já que se encontra acostumado a horários e vontades regrados. E o Sol já não é mais o mesmo... Ah, não pode ser... Ele fervia toda vez que me avistava. E maltratava-me desde o início daquele dia até o seu sórdido e cansativo final, já aconchegado pela mãe Lua que dava o esperado sossego. Agora? Largou-me de lado para viver a sua vida boêmia irregular, porém que é somente sua.
       Mas, pensando melhor, o pior acontecia no mundo das sombras, no aconchego de casa. Os banhos deixaram de ser momentos de alívio, preparação e inserção de disposição. São agora uma coisa prosaica, vazia, sem razão específica de ser, ainda que sejam indispensáveis, eu te garanto: Não se fazem mais banhos como antigamente.
       E meu guarda-roupa então? Nunca esteve tão animado e variado! Largou aquela sobriedade que lhe era peculiar para dar o ar da graça nesse novo mundo, de cabeça para baixo, que surge. De muitas cores, mas que não são tão exorbitantes a ponto de eu ser associado a congregações de jovens tolos e que não entendem nada de moda e música.
       Ah, o meu corpo... Leve, lúcido, gargalhando sem parar! Descanso o meu seio do fardo que carreguei por anos. Descanso meus ombros do peso de carregar o propulsor do meu desenvolvimento intelectual. Descanso minha pele deixando-a transpirar os ares mais puros, e liberta, ela passa a relacionar-se com o Sol, em sua nova fase, que agora, nos permite conhecê-lo em sua plenitude.
       Eis que então pela noite, após reviver mais um dia dessa minha vida transmudada, que ao mesmo tempo é correta e errada, eu me deito agoniado, desesperado, perdido e solitário... E me pergunto: Onde estará meu velho mundo? Há um jeito de retroceder? Ter tudo de volta, para então poder reviver? As coisas parecem ainda muito recentes... Esse salto tão grande deixou-me impotente. Foi algo tão rápido, quem sabe até prepotente.
       E sem saber o que fazer, como um demente, eu te pergunto finalmente:
       Saberás dizer-me onde encontrarei igual amor profundo?
       Saberás dizer-me onde encontrarei igual lar segundo?
       Só não quero é ficar sem mais viver meu velho mundo…
Caio Sereno.

3 comentários:

  1. Eu posso ter interpretado errado, mas lembra muito o que eu ando sentindo pós Pedro II. Este abismo louco que é a vida adulta. Aut, por que não podemos retroceder no tempo?

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  2. @sandro lima
    Mas Sandro, você sacou em cheio. O texto, apesar de não deixar isso explícito, é todo em relação ao Pedro II.
    E obrigado por vir aqui e ainda comentar.
    Adoro os teus dois blogues! Tô guiando minhas sessões da tarde com os filmes que você publica.
    Abração,
    Caio.

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