Para mim o teu corpo canta. Canta e extremamente afinado uma canção de amor. Não um amor de estar amando, simplesmente o amar por si só. Verbo este não pode se concretizar em uma ação. Sabe-se que ele existe e contenta-se com isso. Mas não consigo aquietar-me com a amplitude das notas que atinges. Percebo em cada gesto teu um verso delicado, prolongado, sofrido, e ao mesmo tempo fervoroso, gostoso, que aos meus ouvidos soa como um suspirar apaixonado, ofegante. Pareces clamar pela minha presença, como se eu fosse o único capaz de trazer harmonia às notas bagunçadas, já cansadas de procurar uma ordem que as trouxesse a clareza e tranquilidade tão esperada. Posso estar a distorcer a realidade, ou a criar a realidade que ao meu ver seria o ideal, não sei. Passo o dia pensando nos fatos. Ou pelo menos tentando, já que tua música não sai de minha cabeça, não deixa espaços para a reflexão. Talvez se eu pensasse menos em você e mais sobre nós.