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Aviso

O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A arte de amar-te

      Para mim o teu corpo canta. Canta e extremamente afinado uma canção de amor. Não um amor de estar amando, simplesmente o amar por si só. Verbo este não pode se concretizar em uma ação. Sabe-se que ele existe e contenta-se com isso. Mas não consigo aquietar-me com a amplitude das notas que atinges. Percebo em cada gesto teu um verso delicado, prolongado, sofrido, e ao mesmo tempo fervoroso, gostoso, que aos meus ouvidos soa como um suspirar apaixonado, ofegante. Pareces clamar pela minha presença, como se eu fosse o único capaz de trazer harmonia às notas bagunçadas, já cansadas de procurar uma ordem que as trouxesse a clareza e tranquilidade tão esperada. Posso estar a distorcer a realidade, ou a criar a realidade que ao meu ver seria o ideal, não sei. Passo o dia pensando nos fatos. Ou pelo menos tentando, já que tua música não sai de minha cabeça, não deixa espaços para a reflexão. Talvez se eu pensasse menos em você e mais sobre nós.
       E o teu corpo agora dança. O teu caminhar, tão simples e tão teu, assume uma sequência de passos já conhecida por mim. Já sei quando vais para lá, quando vens para cá ou quando não vais a lugar nenhum. Teus lábios. Ah, teus lábios. Estes com a tua fala encontram-se suavemente, convocando-me para dançar contigo uma valsa, ou algo mais aconchegante e lento, visando saborear cada passo, cada olhar, cada beijo na nuca, cada suspiro desesperado, desejando sempre que a melodia nunca se acabe. Já teus olhos são ágieis, velozes, desgovernados, dançam a dança das ruas. Seus movimentos, imprevisíveis, são de fácil mascaramento. Nunca revelam a verdade. E caso a revelem, fazem-se tão óbvios a ponto de criar dúvidas nos olhos de quem vê. De um certo modo não me importa a imprevisibilidade e o vazio de sentido que eles me trazem. Sua beleza está acima de qualquer coisa. Acima de tudo eles refletem a luz que ilumina os meus pensamentos quando quero transparecer em palavras o que não consigo explicar em atos.
      Isso que lhes exponho creio já ser do conhecimento de todos que a rondeiam. Não que seja da mesma forma romântica com a qual eu fiz, mas a essência magnífica que transparece em cada movimento que ela faz é algo impossível de se negar. Pode ser que as pessoas já devem levar todos esses detalhes de forma prosaica, tola e rotineira, como se fossem inatos a ela, logo, não seria necessário exclamá-los, não haveria motivos para tal esforço. Porém eu não vejo a situação deste modo. Diferentemente de todos encontro nela o fantástico, o extraordinário, o sublime, o fascinante, o memorável, o perfeito! Embebedo-me com a tua magia, e sinto, em todos os dias que a vejo, ter assistido ao mais belo espetáculo da Terra.

Caio Sereno.

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