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O autor adverte que o conteúdo dos textos a seguir pode ser de origem real, imaginária ou onírica. Logo, em se tratando de semelhanças com o cotidiano, os mesmos podem distorcê-lo em intensidade e veracidade dos fatos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Estação 174

estacao     
      Desde que a vi pela primeira vez, não houve um dia sequer em que não passei em frente àquela estação de trem. Ainda não sei o que de fato me prendia ali, mas o meu fôlego se esvaia sempre que enxergava os seus muros altos, brancos e iluminados, a sua calçada suja e amarrotada pelos tantos pés que ali já pisaram, o seu letreiro já desgastado, mas que mantinha a mesma imponência de tempos passados. Tudo fazia com que me sentisse parte daquilo de alguma forma, e eu sabia, que em algum momento, eu descobriria o porquê, mas naquele instante, a Estação 174 era somente uma estação de trem.
      Mas eu queria mais, eu queria estar dentro dela, senti-la, ser um passageiro da Estação 174! E se não fossem por aqueles olhos sinceros, o sorriso educado e a roupa impecável que haviam há pouco passado por mim, eu não teria entrado na estação naquele dia. O chão brilhava, refletia os sorrisos de tantos, e eu ali, estático. Era como se estivesse em casa, apesar de não saber nada sobre aquele lugar. As pessoas indo para todas as direções impulsionavam a minha vontade de conhecer cada pedaço, e as vozes, misturadas, entravam no meu coração e diziam que ali era o meu lugar. Sentei-me. O meu pulsar não se acalmava. Eu fitava os olhos de cada um, invejando as coisas que nunca haviam sido apresentadas a mim.
      Quando o trem finalmente vinha chegando, todos se encaminharam lentamente para o embarque, admirando os trilhos ainda frios e solitários. Lá, ao longe, de repente estava o aguardado e majestoso trem azul e branco. Aos poucos ele foi se aproximando, aos poucos o meu sorriso foi alargando. Não conhecia muitos trens, mas tinha certeza, naquele instante, que o mais belo seria o da Estação 174. “Porém, como entro no trem? O que é necessário? Onde compro o bilh...” Nada mais daquilo importou quando no chão avistei um bilhete, o bilhete do trem. Hesitei por uns segundos, duvidando do que o destino acabava de colocar no alcance das minhas mãos. Peguei-o e corri para dentro do trem antes que as portas se fechassem.
      O que aconteceu no trem da Estação 174 dificilmente tomará forma em frases bem pontuadas. Surpresa, gratidão, medo, timidez, encanto, alegria, aflição, tristeza, decepção, loucura, liberdade, revolta, alívio, amor, apego, paixão, ânimo, desejo, carinho, respeito, saudade e ponto final. A viagem já tinha terminado. O tempo passou tão rápido que quando me dei conta já estava novamente na estação, pronto para desembarcar. Ao sair do vagão, não soube se as lágrimas que chorei eram por tê-lo deixado ou pela sede de ser teu passageiro novamente. Sei que elas foram fruto de uma trajetória feliz, por isso não as culpo de caírem sobre o meu rosto. E na trajetória da vida, eu não sabia a qual estação a vida me levaria depois de ter passado por aquele trem, mas naquele instante, caso eu quisesse a felicidade, eu teria a Estação 174 como o meu destino final.

Caio Sereno e Phelipe Queiroz.

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